O Coronel João da Matta é um binômio de Oficial e Delegado de Polícia, situação que bem expressa um aspecto importante de um longo período da história da Polícia Militar da Paraíba.
Até o início da década de 1980 os Delegados de Polícia na Paraíba eram Oficiais ou Praças da Ativa ou da Reserva da Polícia Militar. Poucas Delegacias eram ocupadas por Civis Comissionados. Nas cidades de pequeno porte e nos Distritos essas funções eram denominadas de Subcomissário de Polícia. Nas cidades de porte médio, mas que não eram sedes de Comarcas, a autoridade policial era denominada de Comissário de Polícia. Só nas sedes de Comarca, essa autoridade tinha o título de Delegado de Polícia.
Além de exercer as funções de Polícia Judiciária, esses policiais também eram Comandantes dos Destacamentos locais. Dessa forma, essas autoridades executavam o denominado ciclo completo de policia.
Neste trabalho vamos sintetizar a carreira de um Oficial que bem representa esse aspecto da história da Polícia Militar.
- O Cidadão João da Mata
O casal, João da Matta Medeiros e Rosa Lopes de Medeiros, naturais de João Pessoa, capital paraibana, teve 5 filhos, em ordem cronológica: Raimunda, Natanael, Eliel, Judite e João da Mata, todos nascidos em João Pessoa. João da Mata M. Filho, o caçula, nasceu quando sua mãe Rosa já tinha mais de 40 anos de idade. Seu pai João da Matta Medeiros era carpinteiro naval e trabalhava na área portuária de Cabedelo.
De veia poética, João da Mata teve alguns dos seus versos publicados na Obra Anuário dos Poetas do Brasil, edições de 1983 e 1984.
João da Mata estudou o curso primário na Escola Presidente João Pessoa, localizada em Tambaú. Em seguida ele fez o Curso Ginasial no Colégio Lins de Vasconcelos e no Colégio Estadual de Santa Júlia, em Tambiá. Como era próprio dos jovens da época João da Mata fez o Curso de Datilografia, no Colégio Getúlio Vargas.
Ainda com 16 anos de idade, João da Mata trabalhou na Cooperativa de Pesca e Caça, fazendo o registro da produção da cada cooperado para efeito de cálculo do pagamento que cada um fazia à Cooperativa para prestação de serviços sociais.
Em 1959 João da Mata prestou serviço militar no 15º Batalhão de Infantaria, sediado no Bairro de Cruz das Armas, onde fez o Curso de Cabo e permaneceu por três anos. A experiência vivenciada nos rigores da disciplina militar fez brotar no jovem João da Mata o sonho de fazer carreira nessa honrosa profissão. O caminho encontrado para concretização desse sonho foi ingressar na Polícia Militar.
- O Sargento João da Mata
No dia 3 de Agosto de 1962, João da Mata ingressou na Polícia Militar, como Soldado, para fazer o Curso de Candidato a Graduado, que foi concluído em 15 de março de 1963, quando ele foi promovido a Cabo. Quatro dias depois foi promovido a Terceiro Sargento, passando a exercer funções burocráticas.
Essa promoção de Sargento tão próxima da Promoção de Cabo era comum na época, e se dava em razão das exigências regulamentares que estabeleciam que as promoções deveriam ser gradativas.
Em abril daquele ano o Sargento João da Mata foi aprovado em seleção para o Curso de Identificador Datiloscopista, o que foi realizado no mês de agosto seguinte. Ainda em 1963, no dia 4 de dezembro João da Mata foi promovido à graduação de Segundo Sargento, permanecendo em funções burocráticas.
Aprovado em Concurso para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em maio de 1964, o Sargento João da Mata preferiu continuar na Polícia Milita.
Em dezembro daquele ano João da Mata foi nomeado para exercer as funções de Comissário de Polícia na Cidade de Bayeux e meses depois, já em 1965, foi transferido para exercer a mesma função em Pitimbu e em seguida para o Bairro do Cabo Branco.
- – O Tenente João da Mata
Em fevereiro de 1966, João da Mata foi aprovado na Seleção para o Curso de Formação de Oficiais, que foi realizado na Polícia Militar de Pernambuco, e concluído no dia 28 de dezembro de 1968, com a garbosa solenidade de Declaração de Aspirantes
Como Aspirante a Oficial João da Mata Prestou serviço no Centro de Instrução, no Bairro do Roger, onde foi Instrutor, Almoxarife, e Auxiliar de Estatística. Ainda como Aspirante a Oficial, João da Mata foi Ajudante de Ordem do Governador João Agripino, por poucos dias, pois não se adaptou à função.
No dia 18 de Junho de 1969 João da Mata foi promovido a 2º Tenente, e assumiu o Serviço de Aprovisionamento do Centro de Instrução.
João da Mata de Medeiros Neto também ingressou na Polícia Militar, alcançou o Posto de Coronel e, depois de assumir relevantes funções na Corporação, onde ainda goza de elevado conceito, passou para a reserva remunerada. em 2017, quando completou mais de 30 anos de efetivo serviço.

Em novembro 1969 João da Mata foi nomeado Comissário de Polícia na cidade de Pirpirituba. Essa função era equivalente a de Delegado de Polícia, pois era a autoridade policial encarregada de exercer as atividades de polícia judiciária.
Em seguida o Tenente João da Mata foi Comissário de Polícia nas cidades de Araçagi, Borborema, Duas Estradas e depois voltou para Pirpirituba.
Em junho de 1970 ele voltou ao Quartel assumindo a função de Ajudante Secretário de Batalhão Especial, ao tempo em que também era Instrutor do Centro de Instrução.
Em 19 de setembro de 1970 ele foi promovido ao posto de 1º Tenente e assumiu Comando da 3ª Companhia do Batalhão Especial de Polícia, e depois foi Tesoureiro do Estabelecimento de Fardamento e Equipamento, setor que produzia o fardamento da Corporação.
Em abril de 1971 os Tenentes João da Mata e Raimundo Donato, fizeram um Estágio na Polícia Militar de Alagoas, sobre Patrulhamento no qual foram ministradas técnica de enfrentamento à Guerrilha Urbana. Esse curso era parte de um amplo programa desenvolvido pela USAID que apoiava as atividades das Polícias no combate à ações subversivas, como forma de proteger os interesse americanos. Os instrutores do curso foram treinados pela USAID.
- O capitão João da Mata
Promovido a Capitão em 5 de outubro de 1973, João da Mata passou a assumir funções pertinente a esse posto, entre as quais a de Comandante da Companhia de Policiamento Ostensivo (CPO), Subunidade que tinha um papel de destaque juntamente com o Serviço de Rádio Patrulha, que teve início naquele ano.
No final de 1974 o Capitão João da Mata voltou a exerce as funções de Autoridade Policial, agora como Delegado de Alagoa Grande, tendo em vista que essa cidade era sede de Comarca. Nessa função ele permaneceu por três anos
Para alcançar as promoções seguintes na sua carreira o Capitão João da Mata precisava fazer o Cursos de Aperfeiçoamento de Oficiais, que era realizado fora do Estado. Assim, no início de 1978, ele pediu exoneração da função de Delegado de Polícia de Alagoa Grande e foi fazer esse curso na Polícia Militar de São Paulo.
Depois desse Curso João da Mata foi designado como Subcomandante do Quarto Batalhão, sediado em Guarabira e em novembro de 1978 voltou às funções de Delegado de Polícia em Serra Branca e depois em Esperança e Guarabira, sucessivamente, cidades essas que eram Sedes de Comarcas.
- O Oficial Superior e a Formação Jurídica
Em 1980 o Capitão João da Mata concluiu o Curso de Ciências Sociais e Jurídicas na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, no Campus da Cidade Universitária em João Pessoa
Naquele ano, como consequência da criação da Polícia Civil de Carreira, foi realizado o primeiro Concurso para Delegado de Polícia e o Capitão João da Mata foi um dos aprovados. Depois de concluído o curso de formação, onde foi o primeiro colocado da turma, João de Mata não aceitou a nomeação preferindo continuar na Polícia Militar. No ano seguinte o Capitão João da Mata foi professor da segunda turma de Delegados.
Nesse posto João da Mata ficou à disposição da Secretaria de Justiça exercendo as funções de Diretor do Presídio Monte Santo, em Campina Grande, onde permaneceu até a sua passagem para a reserva que ocorreu no dia 3 de agosto de 1992.
Já no Quadro da Reserva o Coronel João da Mata foi Diretor do Presídio do Serrotão, em Campina Grande, e Direto da Ciretran também naquela cidade, além de exercer a Advocacia, na área criminal, com marcante atuação nos Tribunais do Júri em diversas cidades no compartimento da borborema.
O Evangelista PioneiroNascido em berço evangélico, onde seu pai João da Matta Medeiros, o carpinteiro naval citado no início desta edição, que fez parte do Conselho de Presbíteros que fundou a primeira Igreja Presbiteriana da Paraíba na cidade de Cabedelo no início do Século passado, João da Mata Filho foi um dos pioneiros a incentivar e divulgar o evangelho de Jesus Cristo dentro e fora da Corporação, respeitando sempre a liberdade de credo e religião de seus subordinados, antes mesmo que fossem garantidos tais direitos na atual Carta Magna de 1988. Esse perfil conciliador e democrático é reconhecido até hoje pelos companheiros de farda, praças e oficiais.
O merecido repousoAtualmente com 83 anos de idades, o Coronel João da Mata é um cidadão muito conhecido e respeitado pela população das cidades aonde ele prestou serviço como Policial Militar ou como Delegado de Polícia.
Todos os policiais militares que com ele conviveram lhes têm muita admiração pela sua competência profissional e pela forma honrada como sempre se conduziu. Como o seu pai, ele também faz versos, nos quais expressa muitos sentimentos e certa dosagem de ironia e humor.
Viúvo há 6 anos, João Mata sempre faz alusão à sua falecida esposa com muito emoção, demonstrando um profundo sentimento de amor, o que já expôs em versos.
Uma conversa com João da Mata é sempre agradável e enriquecedora. Para produzir esse texto conversamos, de forma descontraída, por mais de quatro horas, com os assuntos fluindo de maneira natural. Para mim, foi muito gratificante. Senti-me honrado e privilegiado com esse contato.
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Boa matéria. Tenho excelentes relações com a família do Coronel João da Mata. Estudei o ensino médio com sua filha Joelma, Fui Diretor Adjunto do Presídio do Serrotão quando ele era diretor, e fui subcomandante por duas vezes do seu filho, o também Coronel João da Matta, na então 8a. Cia em Monteiro, e depois do 2o. BPM.
Pois é meu caro Vinício, você teve o privilegio de conviver com dois valorosos Oficiais e seus familiares.
Tive um bom convívio com ele na ativa e o tenho como um exemplo de vida.
É verdade que ele faleceu?
Não é verdade. João da Mata está vivo e muito lúcido.