Briga entre Soldados

Compartilhe!


Foto ilustrativa de uma briga entre Soldados

 

Uma briga entre Soldados do Exército e da Polícia, causou a transferência de um Batalhão do Exército, da Capital da Província da Paraíba para o Rio de Janeiro.  Esse fato foi registrado, em detalhes, no Livro Século e Meio de Bravura e Heroísmo, de autoria do Cônego Eurivaldo Caldas Tavares.

  Na obra, o autor transcreve o conteúdo de documentos relativos aos fatos, ocorridos em 1875, inclusive uma correspondência do Ministro da Guerra, o Duque de Caxias.

     Aqui, vamos fazer uma breve narração desses acontecimentos e, para a sua   melhor compreensão, inicialmente vamos nos situar no tempo e no espaço.

 

  1. Cenário dos fatos

     Em 1850 a Força Pública da Paraíba passou a ocupar um Quartel situado na Rua das Convertidas, atualmente denominada de Rua Maciel Pinheiro. Era o conhecido Quartel do Gravatá, prédio ainda existente.

    Em 1857, foi  concluída a construção, nas proximidades desse Quartel, de um prédio que serviu de Cadeia Pública até meados da década de 1950, quando foi inaugurada a Penitenciária Modelo, situada no Bairro do Roger. Em seguida esse imóvel sediou diversas Secretarias do Estado, e anos depois, a Central de Polícia e, atualmente, é sede de uma moderna Escola de Arte.

   Nas proximidades desses dois prédios existia uma rua muito estreita e que era conhecida por Rua da Matinha, onde teve início a sequência dos fatos que vamos narrar. Em 1918, esse local também foi palco de outra briga entre Soldados da Polícia e do Exército, agora pertencentes ao 49º Batalhão, Unidade que deu origem ao 22º Batalhão de Caçadores e em seguida ao atual 15º Batalhão de Infantaria, instalado em Cruz das Armas.

       Em 1874, o Império, preocupado com a manutenção da ordem pública em decorrência da Revolta Popular conhecida como Quebra Quilos, deslocou um Batalhão do Exército do Rio de Janeiro para a Capital da Província da Paraíba.

     Essa Unidade, denominada de 14º Batalhão, era Comandada pelo Tenente Coronel João Theodoro Pereira de Mello, e ficou instalada no prédio que atualmente é sede do Primeiro Batalhão da PM, na Praça Pedro Américo, e que na época tinha só um pavimento e o pátio era bem menor do que o atual. A partir de então o 14º Batalhão passou a fazer a segurança da Cadeia, o que até então era feito pela Força Pública.

     Naquela época, as Unidades do Exército sediadas nas Províncias eram subordinadas diretamente ao respectivo Presidente, que na Paraíba era Elvídio Carneiro de Cunha, um político altamente conceituado junto ao Imperador, de quem recebeu o título de Barão do Abiaí, e ainda foi Presidente das Provinciais do Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão.

       Naquele Governo, o Dr. Ernesto Francisco Antônio de Almeida e Albuquerque, um influente político que já tinha ocupado a Presidência da Província, era o Chefe de Polícia.  O Comandante da Força Pública era o Major Francisco Pinto Pessoa, que substituiu o Tenente Coronel Francisco Aranha, que tinha sido eleito Deputado Provincial.

     Pois é. Esse é o cenário. Vamos aos fatos

2. O começo das desavenças

       Na manhã do dia 6 de dezembro de 1875, na Rua da Matinha, por motivos pessoais, houve uma briga entre Soldados da Força Policial e outros do 14º Batalhão, situação que ocorria com certa frequência naquela época. Os contendores ficaram feridos. Um policial ferido foi para o seu Quartel e os Militares, também feridos, foram para o alojamento da Guarda da Cadeia, onde estavam de serviço.

       Esse fato fortaleceu o desejo de represália por parte dos integrantes daquela Unidade Militar.

 3. A briga generalizada

     No começo da noite, do mesmo dia, nas proximidades do Quartel da Força Pública, um grupo de Soldados do 14º Batalhão se encontrou com dois Policiais e partiu para lhes agredir. Teve início mais uma briga entres Soldados. Houve resistência e os Policiais se dirigiram para o seu Quartel. Os militares lhes acompanharam e tentaram invadir aquela Caserna. Os Policiais que estavam aquartelados reagiram e houve lutar corporal.  Foi uma briga generalizada.

      Enquanto a luta ocorria, o Comandante da Guarda da Cadeia mandou para o local seis Soldados para tentar apaziguar a confusão. Do confronto resultaram feridos quatro Soldados da Força Pública, e alguns do Exército, que foram conduzidos ao alojamento de Guarda da Cadeia, onde estavam de serviço.

   4. A apuração

   O Comandante do 14º Batalhão, que foi informado da situação, se dirigiu às presas ao Quartel e comunicou o fato ao Dr. Ernesto Francisco Antônio de Almeida e Albuquerque, o Chefe de Polícia, que também para lá se dirigiu.  

    Para chegar no Quartel da Força Pública, onde tinha ocorrido o conflito, o Chefe de Polícia passava pela Quartel do Exército. Ao se aproximar desse local o Dr. Ernesto percebeu uma grande quantidade de militares na frente do prédio, e para lá se dirigiu.

   Chegando mais perto dessas pessoas, aquela autoridade policial notou que estava havendo uma acirrada discussão entre o Comandante do 14º Batalhão e o Tenente Coronel Francisco Aranha, ex-Comandante da Força Policial, e que tinha se afastado da função em razão de ter sido eleito Deputado Provincial.

    Na discussão, o Tenente Coronel Francisco Aranha, fazendo uso da prerrogativa de parlamentar, tratava o Comandante do Batalhão de forma deselegante e agressiva, acusando-o de ser o responsável pelo conflito que acabava de ocorrer.  Na conversa, o Chefe de polícia conseguiu convencer o Deputado a se retirar do local, e em seguida entrou no Quartel, com o seu Comandante, onde ouviu a sua versão sobre os fatos.

    Depois de se informar do que se passara, o Dr. Ernesto aconselhou aquele Comandante a recolher todo o seu efetivo ao interior do Quartel para evitar a possibilidade de novos conflitos, no que foi atendido. Em seguida o Chefe de Polícia foi ao Quartel da Força Pública onde se inteirou de mais detalhes dos fatos, e também recomendou que os Policiais fossem recolhidos ao Quartel para evitar mais confusões, o que já havia sido providenciado.

   No dia seguinte, o Comandante de Força Pública fez uma minuciosa comunicação ao Presidente Elvídio Carneiro de Cunha, na qual fez acusações ao Comandante do 14° Batalhão, taxando-o de omisso em questões disciplinares do seus comandados, o que teria provocado uma série de conflitos entre integrantes dessas instituições.

     Na mesma data, o Chefe de Polícia também remeteu ao Presidente da Província, um detalhado relatório, confirmando parte do relato do Comandante de Força Pública. Demonstrando que o clima de animosidade entre as partes envolvidas     fazia prever a possibilidade de novos conflitos, o Chefe de Polícia mostrou-se preocupado com a ordem publica cidade.

5. O desfecho

     O Comandante do 14º Batalhão, fez um Comunicado minucioso ao Dr. Elvídio Carneiro e ao Ministro do Exército, mostrando-se revoltado com o tratamento recebido do Tenente Coronel Francisco Aranha, e afirmando que a causa dos constantes conflitos e de briga entre Soldados do Exército e da Força Pública era o baixo nível disciplinar dos policiais, e o incentivo do seu Comandante, o Major Francisco Pinto Pessoa, que era o responsável pelo conflito ocorrido no dia anterior.

       Depois de examinar o Relatório do Tenente Coronel Tenente Coronel João Theodoro Pereira de Mello, o Marechal Luiz Alves de Lima, Ministro da Guerra, remeteu ao Presidente da Província da Paraíba, um documento nos seguintes termos:

Remeto a V. Excia, por cópia, a parte dada contra o Comandante do Corpo de Polícia dessa Província, a fim de que V. Excia. informe a semelhante respeito.

Por esta ocasião, declaro a V. Excia, que tendo cessado os motivos que determinaram a ida do dito Batalhão para essa Província, cumpre que V. Excia dê ordem para que ele se ache pronto para embarcar logo que ai chegar o Transporte que o deverá conduzir para esta Côrte.

    Deus guarde V. Excia.

     Duque de Caxias

 

Cadeia-Publica-onde-a-Guarda-era-feita-por-Soldados-do-Exercito-que-se-envolveram-em-briga-om-Soldados-de-Policia.jpg

Quartel-do-14o-Batalhao-do-Exercito-em-1875-scaled.jpg

 

 

Veja também

A força moral da farda

Astúcia policial

https://pt.wikipedia.org/wiki/Silvino_Elv%C3%ADdio_Carneiro_da_Cunha

Compartilhe!

Subscribe
Notificação de
guest

0 Comentários
Antigos
Recentes Mais Votados
Inline Feedbacks
View all comments