A morte de Livino, irmão de Lampião, ocorreu em Tenório, Distrito de Flores, em Pernambuco, e atualmente Município, em um combate entre duas Patrulhas Volantes da Polícia Militar da Paraíba, contra o Grupo de Lampião.
Um convênio firmado entre os Governadores do nordeste, permitia que quando um Patrulha Volante, denominação dos grupos de policiais que combatiam os cangaceiros, estivesse nessas atividades, podiam ultrapassar as divisas dos Estados, o que ocorria com muita frequência.
Aqui vamos abordar a diligência que resultou na morte de Livino, fato, que foi um dos mais importantes feitos nas lutas das forças policiais contra a nefasta atuação desses bandidos. Vamos aos fatos.
No dia 21 de fevereiro de 1925, duas Patrulhas Volantes da Polícia Militar da Paraíba, composta por 20 Praças cada, comandadas respectivamente pelos Tenentes Joaquim Adauto de Oliveira e Severino Oliveira, com apoio de outra Volante da Polícia Militar de Pernambuco, composta por 40 Praças, Comandada pelo Tenente João Gomes, entraram em combate com o grupo de Lampião, na localidade conhecida por Serrote Preto, Distrito de Mata Grande, no estado de Alagoas.
Nesse confronto morreram os 2 Oficiais e mais 5 Soldados da Paraíba, além de ter resultado no ferimento de mais 7 Soldados dessa Corporação. A Volante Pernambucana também teve 4 Soldados mortos e 5 feridos. Do grupo de Lampião, morreram 3 cangaceiros, inclusive um dos seus líderes. Com o fim do combate, Lampião ficou circulando no Estado de Alagoas, perseguido pelas Volantes daquele Estado.
Esse acontecimento ficou conhecido como o Combate do Serrote Preto e nele o Cangaceiro Livino, irmão de Lampião, matou o Sargento Franciso Oliviera. (Esse fato é relatado nesse site - veja o link ao final do texto)
Essa atuação da Polícia de um Estado ingressando em outro, se dava por conta de um Convênio firmado entre os Governadores do Nordeste e era exclusive para casos de perseguição ao grupo de Lampião. Despois dessas lutas, Lampião demorou uns meses circulando em Alagoas e Pernambuco, sempre perseguido pelas Polícias desses Estados, e no início de julho daquele ano (1925), começou a tentar atuar na Paraíba, com o intuito de se vingar das baixas que teve em Serrote Preto.
Nesse contexto ocorreram os fatos que passamos a registrar.
No dia 5 de julho de 1925, as autoridade de Flores, em Pernambuco, fronteira com Princesa, na Paraíba, tomaram conhecimento de que, pelo rumo que o Grupo de Lampião estava seguindo, iria invadir aquela cidade.
O Destacamento de Flores era composto por 8 Praças, e na Cadeia Pública tinha 30 Presos. Ou seja, não tinha condições de se defender daquela iminente invasão. Por esse motivo, as autoridades daquela cidade solicitaram ajuda à cidade de Princesa, onde a PM da Paraíba concentrava um grande efetivo destinado a efetivação de diligências contra o grupo de Lampião. Esse tipo de solicitação era comum naquela época e ocorria com todas as Polícias do noredeste.
As atividades dessa Tropa eram coordenadas pelo Deputado José Pereira, chefe político daquela área, e que, na ocasião, não se encontrava na cidade. Por esse motivo, o Delegado da cidade, Manuel Carlos, determinou que a Volante Comandada pelos Sargentos José Guedes e Cícero Oliveira, com 15 Soldados, se deslocasse para Flores, a fim de proteger a cidade.
Quando esses Volantes chegaram em Flores, onde foram recebidas com ovação pelo povo da cidade, foram informadas de que Lampião estava no Sítio Melancia, localizada a 3 Km, e para lá se dirigiram. Ali, a tropa tomou conhecimento que Lampião se deslocou com destino a localidade de Tenório, para onde os Volantes seguiram.
No caminho, já ao anoitecer, os Volantes encontraram uma casa suspeita, na beira da estrada, e resolveram averiguar. No local estava Lampião e seu grupo, que abriram fogo contra os Policiais, que, de imediato reagiram. Teve início o Combate de Tenório.
Depois de um intenso tiroteio, uma mulher surgiu na porta da casa pedindo para sair com seus filhos. Os Volantes suspenderam os tiros. Quando a mulher ia saindo, os bandidos se aproveitaram, e fugiram por uma saída lateral da casa.
Diante do silêncio, os Volantes, de forma cautelosa, entram na casa, e o Sargento Cícero encontrou o Cangaceiro João Romeiro, agonizando.
Dada a escuridão, a Patrulha se afastou, se abrigou, e esperou amanhecer o dia, quando voltou para nova averiguação. O Sargento Cícero Oliveira entrou na frente. Os cangaceiros tinham voltado àquele local e abriram fogo. Cícero foi atingido, na região próxima ao olho direito, na mão esquerda e na pistola Mauzer que conduzia, o que deixou essa arma imprestável.
Feito isso os cangaceiros voltam a fugir. Guedes e todo grupo se empenharam no transporte para socorrer Cícero, que foi conduzido por três Soldados (Soldados João Freire, Napoleão Ferreira Gomes e Antônio Pereira Diniz), enquanto os demais buscavam forma de garantir esse deslocamento.
Sabendo o caminho por onde os Policiais seguiriam para prestar socorro ao amigo, os cangaceiros montaram uma emboscada no local conhecido por Barra do Joá. Ao ser atacada, nesse local, a Patrulha se abrigou e resistiu ao ataque. A munição de alguns policiais estava se acabando. O Sargento Guedes reuniu o grupo, juntou todos os cartuchos, e dividiu igualmente com todos, o que permitiu uma melhor resistência.
Nessa situação, chegou um reforço, vindo de Princesa, sob o Comando do Delegado Manuel Teotônio, e os cangaceiros fugiram.
A mulher que estava na casa onde o tiroteio começou, foi interrogada e informou que quando os bandidos saíram em fuga daquela casa, levaram o cangaceiro Levino Ferreira, irmão de Lampião, enrolado em um lençol, todo ensanguentado, com um tiro na cabeça e outro no tórax. Dias depois, foi confirmada a morte de Livino.
Apesar dos esforços da Patrulha para socorrer o Sargento Cícero Alves de Oliveira, ele faleceu ao chegar no Distrito de Tenório, para onde tinha sido conduzido. Esse Sargento era irmão do Tenente Honorário Francisco Alves de Oliveira, que faleceu no combate do Serrote Preto, oncorrido em 21 de fevereiro daquele ano.
Esses irmãos Oliveira ingressaram na Polícia por influência do Deputado José Pereira. Cícero assentou praça na Corporação como Sargento, depois da morte do irmão, e também passou a ocupar a função de Comandante de Patrulha Volante.
Dois outros irmãs daquela família também ingressaram na Polícia Militar, sempre com a interferência de José Pereira, integraram Patrulhas Volantes e, igualmente foram mortos em ação.
O combate de Tenório foi uma das muitas importantes participações do Sargento José Lino Guedes em combates dessa natureza. A morte de Livino, foi uma das maiores perdas do grupo de Lampião.
Depois do combater, o Sargento Guedes tomou conheciemtos de que foi o Soldado Berlamino Morais quem efetuou o disparo que causou a morte de Livino.
Integravam essa Patrulha, além dos Sargento Guedes e Cícero, os seguntes Soldados: João Freire, Napolão Ferreira Gomes, Antônio Severino Marcena, Belarmino Pereira, Antônio Cerino, Antônio Pereira Diniz, Cyrino Machado, Francisco Alexandre, Belermino Pereria de Morais, Mário Herulano, Manuel Herculano.
Informado dos detalhes desses combates e do seu resutlado, o Governador João Suassuna resolveu elogiar formalmente e gratifiar os integrantes da Patrulha da seguinte forma: Os Soldados que tiveram papel de destaque, com 100 mil réis; o Sargento Cícero com 200 mil réis, e o Sagento Guedes com 250 mil réis.
Esse fato é um dos muitos dessa natureza expostos de maneira detalhada e contextualizada na obra Serrote Preto, de autoria de Rodrigues de Carvalho.
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